#Resenha: O Leopardo – Jo Nesbø

“Øystein disse que você ficou tão machucado porque não quis desistir de jeito nenhum. Você se levantava de novo e de novo e por fim estava tão ensanguentado que os rapazes maiores ficaram com medo e deram no pé.

Olav Hole riu baixinho.

— Eu achava que não podia te dizer naquela época, seria encorajar a entrar em brigas. Mas eu me sentia tão orgulhoso que podia chorar. Você era tão corajoso, Harry. Tinha medo do escuro, mas isso não te impedia de andar na escuridão. E eu era o pai mais orgulhoso do mundo. Alguma vez te disse isso, Harry? Harry? Está aí?”

O Leopardo – Jo Nesbø

Jo Nesbø já foi jogador profissional de futebol e vocalista e guitarrista de uma banda de pop rock. Mas problemas no joelho e a decisão de deixar o ramo musical, o trouxeram para o que seria seu grande hit: escrever romances policiais.

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O primeiro contato que tive com seus livros, foi com Boneco de Neve. Assim que li a sinopse foi impossível resistir.

 “Considerado seu livro mais ambicioso pelo jornal inglês The Guardian e comparado a Silêncio dos Inocentes, de Thomas Harris, pelo The Times, Boneco de neve é um livro arrepiante. No dia da primeira neve do ano, na fria cidade de Oslo, o inspetor Harry Hole se depara com um psicopata cruel, que cria suas próprias regras. O terror se espalha pela cidade, pois um boneco de neve no jardim pode ser um aviso de que haverá uma próxima vítima. No caso mais desafiador da sua carreira, Hole se envolve em uma trama complexa e mortal, com final surpreendente.”

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O livro traz como personagem principal o detetive Harry Hole. Apesar de seu indiscutível talento, que o levou a ser escolhido para participar de um curso sobre serial killers, com o FBI, Harry está mais próximo de um problema do que de uma solução para o Departamento de Homicídios de Oslo. Além de seu temperamento difícil de controlar, Harry é alcoólatra e constantemente atormentado por casos e erros do passado. Ou seja, a personificação perfeita de um anti-herói. Mas tudo isto só torna o personagem ainda mais atraente. Charme que ele usa muitas vezes sem escrúpulos.

“Harry ouviu a formalidade na sua voz. A voz de um homem sem capacidade de perdoar, sem consideração, sem pensar em nada além das próprias metas. E aplicou a técnica de convencer invertida, com a qual tinha êxito com demasiada frequência (…).”

Em O Leopardo, a polícia se vê as voltas com um novo psicopata e precisa novamente da ajuda de Hole, que desapareceu depois da resolução do caso do Boneco de Neve. E cabe a detetive Kaja Solness encontrar Harry e trazê-lo de volta. Mas as cicatrizes deixadas pelo último caso desta vez são muito mais profundas e pessoais. Tendo perdido seus únicos pontos de equilíbrio, Hole se refugiou em Hong Kong e busca no ópio uma fonte de entorpecimento para o passado.

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A única carta na manga a ser usada pra trazê-lo de volta é a doença de seu pai. O que nos leva a alguns dos melhores trechos do livro. Em seus diálogos com o pai, podemos ter uma visão melhor da formação da personalidade de Harry.

Mas não foi somente a necessidade de capturar o assassino que levou o departamento a ir atrás de Hole. Há uma verdadeira guerra política acontecendo entre a Divisão de Homicídios e a Kripos sobre quem terá prioridade nos melhores casos e acesso aos recursos. Ou seja, não é necessário somente resolver o caso, mas resolvê-lo primeiro. E neste contexto, entra Mikael Bellman, o chefe da Kripos totalmente voltado para a ascensão social e que não tem a intenção de facilitar em nada as coisas para Harry.

A história é muito bem desenvolvida e nos prende a cada página.  E, mais uma vez, o detetive se vê muito mais próximo ao assassino do que poderia imaginar. A tensão emana em cada parágrafo.

“Prendeu a respiração para captar os ruídos. Não ouviu nada, mas notava uma presença. Como um leopardo. Alguém lhe contara que o leopardo era tão silencioso que podia esgueirar-se para pertinho da presa no escuro, e podia ajustar o fôlego para respirar no mesmo ritmo que você. Podia prender a respiração quando você prendia a sua. Ela tinha certeza de que podia sentir o calor do corpo dele. O que ele estava esperando? Ela voltou a respirar. No mesmo instante sentiu o hálito de alguém na nuca. Ela se virou, golpeou, mas acertou apenas o ar. Ela se encolheu, tentou se encolher, se esconder. Em vão. Quanto tempo havia ficado desacordada? O efeito da droga estava quase no fim. A sensação durou apenas uma fração de segundo. Mas foi o suficiente para dar-lhe o presságio, a promessa. A promessa do que estava por vir.”

Boneco de Neve e O Leopardo são, respectivamente, o sétimo e oitavo volume da série de Harry Hole. O primeiro volume, Garganta Vermelha, recebeu diversos prêmios da crítica e Boneco de Neve teve seus direitos comprados para a produção de um filme por Martin Scorsese. Os livros de Jo Nesbø trazem o que há de melhor no gênero policial e o autor virou um dos meus favoritos no gênero, junto com Stieg Larsson, da Trilogia Millenium. Aguardando ansiosa pelo filme e pelo próximo livro da série!

Martin Scorsese adquiriu os direitos para o filme de Boneco de Neve

Martin Scorsese adquiriu os direitos para o filme de Boneco de Neve.

“I think it’s possible to learn. The problem is that we learn so damned slowly, so that by the time you’ve realized something, it’s too late.”